À época diziam que era mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da guerra na Europa.

A II Guerra Mundial (1939 a 1945) tomava proporções generalizadas. O Brasil procurou manter-se neutro. Com sobejos motivos, em 1942, rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo: Alemanha, Itália e Japão, participando dos conflitos, a partir de agosto do mesmo ano, ao repelir, à altura, as invasões de submarinos alemães que torpedeavam nossos navios mercantes em pleno Atlântico Sul. O encontro de Getúlio Vargas com Franklin Roosevelt, Presidente dos EEUU, ao entrar 1943, em Natal-RN, selou definitivamente nossa participação na guerra. Todavia até 1944, o Brasil atuava na retaguarda, dando incondicional apoio aos Norte-Americanos, não só na Marinha, como pela cessão do principal produto interno bruto: a “borracha”, quando envolveu-se intensivamente nas batalhas, com destaque à final vitoriosa e decisiva, em “21 de fevereiro de 1945”, a tomada do Monte Castelo, principal concentração dos alemães ao Norte da Itália, liderada pela ousadia e obstinação dos irmãos sobralenses, os Tenentes da FEB (Força Expedicionária Brasileira): MIRANDA e ANDRADE, integrantes do Regimento Sampaio.
No meado de 1942, quando a seca causticava o Ceará, o Japão dominava a Malásia e as Índias Holandesas, maiores produtores mundiais de borracha, privando, em conseqüência, os nossos países aliados deste produto de fundamental necessidade, com que acelerou sua valorização nos seringais da Amazônia, parcial e particularmente explorados por aventureiros sobralenses visando a fortuna. O cearense, destacando-se o sobralense, como raça intrépida do Nordeste, era o tipo ideal para a empreitada, pela gênese de migração, haja vista o que aconteceria na construção de Brasília, onde foram alcunhados de Candangos. Nos seringais, os sobralenses foram cognominados de “Arigós” ou “Soldados da Borracha”.
Foi quando Getúlio Vargas (1930 a 1945), no auge do seu Governo Ditatorial, com poderes ilimitados no chamado Estado Novo, desencadeou o controle oficial da exploração da borracha brasileira em 1942. Através das Intervenções Estaduais, foi criado o SENTA (Serviço Especial de Migração de Trabalhadores para a Amazônia), financiado pelos EEUU. Como Governador do Ceará continuava o Interventor Francisco Menezes Pimentel (1935 a 1945), natural de Santa Quitéria. O Posto Central do SENTA foi instalado em Sobral, na Praça Sen. Figueira, atrás dos Correios e Telégrafos, na mansão azulejada de Alberto Amaral, hoje demolida, onde funcionou, por muito tempo, o Bela Vista Hotel. O secretário de governo e encarregado do SENTA, foi o Sr. Artur da Silveira Borges, que houvera sido o 16º Prefeito de Sobral, 1930 a 1932.
A determinação intrépida dos sobralenses constituía a mão-de-obra ideal nos seringais. Aos 18 anos, estavam sendo convocados ao alistamento militar: Exército, Marinha ou Aeronáutica, com opções ao SENTA. A maioria aderiu à exploração da borracha para suprimento às nossas Forças Armadas, constituindo, por conseguinte, a primeira participação de SOBRAL, embora indiretamente, na II Guerra Mundial.
A temível e inexorável “Lurdinha”, relampejante metralhadora alemã, empalideceu ante à tarja dos Norte-Americanos: “A Cobra está Fumando”. O rigoroso inverno de 1945 cobria de neve a vastidão do Vale Reno, destacando-se em escarpado arco montanhoso, o imponente e inóspito MONTE CASTELO. A inclemência da mortal nevada que ornava os Apeninos, aliada ao trovejar incessante do bombardeio alemão, desafiava os pracinhas brasileiros, enclausurando-os em impiedosa provação: sitiar o Monte Castelo. Malogradas tentativas mostravam-se, sobremodo, o maior desafio à FEB, perante o anseio mundial, pelos bravos descendentes de Caxias, liderados, no momento, pelo insigne Mascarenhas de Moraes.
Na Itália, à frente dos confrontos, encontravam-se os irmãos sobralenses, em ataques opostos e independentes, filhos de José Leôncio Andrade e Anahide Pessoa Andrade. Tenentes MIRANDA (Joaquim Miranda Pessoa de Andrade) e ANDRADE (José Leôncio Pessoa de Andrade), incorporados à FEB, integrantes do Regimento Sampaio.
Os inimigos haviam vencido uma tentativa dos americanos e derrotado dois ataques dos brasileiros, em 29 de novembro e 12 de dezembro de 1944, nos quais tombaram 330 pracinhas nossos, dos 25 mil que embarcaram para a Europa em navios Norte-Americanos, integrantes da FEB. Finalmente, o Ten. Miranda, Sub-Comandante da 7ª Cia. do Regimento Sampaio, em 21 de fevereiro de 1945, liderou o 3º ataque da FEB, na linha da frente, à tomada do Monte Castelo, batalha vitoriosa, considerada pelos militares brasileiros a mais importante contribuição vital do País à derrota do Nazi-Fascismo, deixando-os totalmente à deriva, visto que, em 30 de abril, Hitler se suicida e, logo após, 8 e 9 de maio, dá-se a rendição dos últimos alemães.
Concomitantemente, estava também combatendo nas montanhas geladas circunvizinhas, o Ten. ANDRADE. Os irmãos não se encontraram entre o fogo cruzado. O Ten. Andrade, antes do ataque decisivo do Ten. Miranda, comandava o Pelotão de Petrecho (morteiros e metralhadoras), do mesmo Regimento Sampaio, em ataque simultaneamente vitorioso ao campo inimigo Torre di Nerone, sendo o 1º oficial brasileiro atingido por granadas alemãs, perdendo boa parte de uma perna, posteriormente reconstituída por uma de borracha.
Conheçamos alguns episódios isolados, quando do ataque mortal aos inimigos, em 21/02/1945. Clima deveras tenso. À ordem de avanço pelo Ten. Miranda, um pracinha a ele se dirigiu. “Seu Tenente, o que é que eu tenho com esta guerra, por que é que eu tenho de morrer?”. Ao recuo dos inimigos, as montanhas ficaram livres e dominadas pelos brasileiros que encontraram – remanescentes da batalha de 12/12/44, sete corpos insepultos, porém congelados, cuja argamassa de gelo já se desfazia em neves. No bolso de um destes cadáveres brasileiros, o Sl. Lima, foram encontradas e logo remetidas à família, 65 mil liras; produto de sua perícia como profissional jogador, nas horas de folga, nos carteados e roletas italianas.
Em setembro de 1945, ANDRADE foi reconhecido como herói e recebido em sua terra natal por compacta massa humana de conterrâneos, destacando-se, em 1ª linha, a presença de D. José Tupinambá, quando merecida homenagem foi-lhe prestada na residência de seus pais, na tradicional e nome insubstituível Praça da Meruoca, esquina com Domingos Olímpio, na época, Rua da Aurora. MIRANDA não pôde comparecer.
Foto do Tenente Andrade quando se recuperava do ferimento no hospital dos Estados Unidos – Fonte: facebook.